sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Tratado de Tagilde

Paulo Werneck

O Tratado de Tagilde foi assinado a 10 de Julho de 1372, na Igreja de S. Salvador de Tagilde, entre o Rei D. Fernando (o Formoso, ou o Inconstante) e representantes do Duque de Lencastre (filho de Eduardo III de Inglaterra).

Não encontrei o texto inteiro, mas apenas uma parte dele, no sítio da Freguesia de Tagilde, copiado do livro "Avicella – Antologia sobre Vizela e seu Termo", de Maria José Pacheco, publicado em 1984. Como não obtive o livro, não sei se o texto estaria completo no mesmo, nem qual a fonte utilizada pela autora. Como o ótimo é inimigo do bom, transcrevo o que obtive, aguardando algum leitor interessado ajudar a completá-lo.
Em nome de Deus amen. Sabham quamtos esta carta de perduravel firmidoem virem como na Era de mil quatrocentos e dez annos convem a saber dez dias do mes de julho na Egreja de Sam Salvador de Taagilde de Arcebispado do Bragaa stando hi presentes o muito alto e mui nobre dom Fernando pela graçanem de Deos Rey de portugal e do Algarve E Joham fernandez Andeyro cavaleyro e Roger hoor scudeiro mesegeiros e procuradores do muito alto e mui nobre dom Joham per essa meesma graça Rey de Castela e de leon e duc de Lencastre e outrosy mesegeiros e procuradores da muita alta e mui nobre Senhora Reynha dona Costãça sua molher per huma procuraçom dos ditos Senhores Rey e Reynha de Castela da qual o teor adeante scripto...

o dito senhor Rey de portugal em Seu nome e da muita alta e mui nobre Senhora Reynha dona leonor sua molher e de todos seus sucessores e herdeiros e os ditos procuradores Joham fernandez e Roger hoor em nome dos ditos Senhores Rey dom Joham e Reynha de Castela e de todos seus sucessores e herdeiros per poder da dita procuraçom firmarom antre sy amizades e lianças pera senpre valedoiras na maneira que se segue:

Primeiramente prometerom que serom prouguelhis e outorgarom que fossem boons leaaes fieles e uerdadeiros amigos pera senpre e que se amassem bem e uerdadeiramente e que em nenhuum tenpo non fossem huum contra o outro nem contra seus Regnos e sucessores e herdeiros per sy nem per outrem e que cadahuum deles fezesse todo seu poder pra arredar dapno contra e desfazimento do outro.

Item prometerom...
Observe-se que o tratado foi firmado no ano 1410 da Era de Cesar, que corresponde ao ano de 1372 no calendário cristão.

Dom Fernando estava disputando o trono de Castela e a primeira fase das Guerras Fernandinas já havia terminado, como o Tratado de Alcoutin, de 1371. Mas Dom Fernando não se deu por vencido e fez aliança com o Duque de Lencastre, também pretendente ao mesmo trono. Seria interessante saber quais teriam sido os demais artigos...

O Visconde de Santarém menciona esse acordo, todavia como tendo sido firmado em Braga:
An. 1372

Nesta mesma época o Senhor Rei D. Fernando intenta quebrar a paz com ElRei D. Henrique de Castella. - Escreve ao Duque de Lencastre por Vasco Domingues, Chantre de Braga, convidando-o para esta guerra.

An. 1372

Neste anno o Duque de Lencastre, filho 3° d'ElRei Duarte III de Inglaterra, o qual se intitulava Rei de Castella, manda uma Embaixada a Portugal, sendo Embaixadores João Fernandes Andeiro, e Roger Hoor, cujo objecto era tratarem alliança com o Senhor Rei D. Fernando contra D. Henrique Rei de Castella.

An. 1372, Julho

Nesta época celebrou-se em Braga o Tratado de paz, e alliança entre o Senhor Rei D. Fernando, e o Duque de Lencastre, que se intitulava Rei de Castella, contra ElRei D. Henrique de Castella, e contra ElRei D. Pedro IV de Aragão, cujos principaes Artigos forão os seguintes: - Que ElRei de Portugal, e o Duque de Lencastre fossem verdadeiros amigos, e que se ajudassem por mar, e terra contra D. Henrique, que se chamava Rei de Castella, e contra ElRei D. Pedro de Aragão; que no caso de vir o Duque fazer guerra a ElRei de Aragão, ou a D. Henrique de Castella, e estando no Reino de Navarra, e começando a guerra contra cada um d'elles, ElRei de Portugal lhes faria logo guerra; que se o Duque entrasse pelos ditos Reinos com seu corpo, ElRei de Portugal faria o mesmo; que as despezas d'estas guerras serião á custa d'aquelle que as fizesse; que quanto ElRei de Portugal tomasse do Reino de Castella, excepto villa, castello, ou lugar, fosse seu; que tudo o que se tomasse do Reino de Aragão, seria daquelle, que o tomasse.
ATUALIZAÇÃO: A íntegra do tratado encontra-se em Integra do Tratado de Tagilde.  

Fontes:

CARVALHOSA, Manuel Francisco de Barros e Sousa de Mesquita de Macedo Leitão e (Visconde de Santarém). Quadro Elementar das Relações Politicas e Diplomáticas de Portugal com as Diversas Potencias do Mundo Desde o Principio da Monarchia Portugueza Até aos Nossos Dias. Tomo 1. Segunda edição. Páginas 229 e seguintes. Paris: J. P. Aillaud, 1842. Disponível em Internet Archive (www.archive.org).

TAGILDE. Sítio da Freguesia de Tagilde (freg-tagilde.com).